terça-feira, maio 19, 2015

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 Hoje em dia os blogs estão cada vez mais presentes na nossa vida, já existem milhares de blogueiros pela internet. E muitos deles tem uma enorme influência sobre seus leitores, e usavam isto para entrar em eventos, divulgar produtos de diferentes marcas... E em pouca das vezes podíamos ver um blogueiro já conhecido falando sobre alguma causa que ele defende. Mas hoje já podemos ver que grande parte desses ''bloggers'' tem tentado usar as ferramentas que tem para defender algo que acredita. Temos, por exemplo, os vloggers Chico Rezende e Kefera que estão constantemente fazendo campanhas para que as pessoas adotem animais ao invés de compra-los, temos também o blog Acidez Feminina que está sempre defendendo os direitos das mulheres. 
 Mas hoje viemos mostrar a história da Ixi Girl que é a blogueira e jornalista Erika Gentilli. Ela nunca escondeu para seus leitores a dificuldade que teve em sua vida em relação aos padrões de beleza, tanto é que quando as pessoas a chamam de It Girl, ela diz que não gosta de ser rotulada por isso se intitula Ixi Girl, pois em várias regiões brasileiras a expressão ''ixi'' significa surpresa. 
Confira a baixo um trecho do post de Erika contando sua trajetória:
FASE 1 – “MINI-PRECONCEITOS”: Quando eu era pequena, na escola, eu era zoada por ser muito branca, muito mesmo – anos depois fui zoada por ter um pai negro e possivelmente ser adotada. Cresci um pouco e fiquei potencialmente esquisita:cabelo igual de crente, abaixo da cintura, despontado, só porque minha professora Dorotir tinha e eu gostava – na época estudava em colégio católico e as freiras vivam perguntando se eu era de uma igreja evangélica, o que eu não era, mas não evitava o rótulo. Em uma educação física, eu tinha uns 9 anos e tiramos todas a camiseta pra trocar por regata e todas riram em coro de mim um sonoro “hahaha”. A princípio não entendi, mas é que eu tinha peitos. Todas retas e eu tinha peitos – até ali eu achava que todas tinham ou que não tinha problema, até me confrontar com o deboche. Eram mini-peitos, mas o suficiente pra me julgarem por muito tempo e promover um auto-julgamento mental. Fiquei séculos sem me trocar na frente de ninguém. 
FASE 2- “GÊNERO”: Certa vez eu tinha ainda um cabelão e meu pai disse que me levaria pra dar uma volta. Mas me levou em um japonês pra cortar o cabelo, cortou todo, joãozinho, e deixou um rabinho, tipo mullets. Eu nem estava “em sociedade” ainda, morava no sitio, com as galinhas e porcos, mas aquilo doeu. Mexer na aparência e em algo que tão cedo aprendemos a cultivar, tipo o cabelo, dói em uma menina (no meu caso porque eu amava fazer trança). Eu lembro de pessoas perguntando se eu era um menino, mesmo eu me vestindo de rosa. Mas meus pais eram meio cool. Na minha festa de um ano eu me vesti de menino em duas trocas de roupa (xadrez e jeans e conjunto de terninho branco) e uma vez só de menina, na hora do parabéns. Essa coisa de preconceito e gênero nunca me foi ensinada. Dá pra ver que eles não ligavam pra me diferenciar mesmo, super hippies, haha.  
FASE 3- “GOSTOSA CDF”: Quando mudei de escola, eu era bem magra, mas começava a crescer um corpo e ter espinhas. Um mancebo disse “seria perfeita se fizesse uma limpeza de pele”. Eu era nerd, na verdade esforçada na escola. Passava o dia lá. Eu não fugia de nada, só queria aprender mesmo, o máximo possível – sempre fui fascinada por experiências. E então comecei a levar o rótulo de “CDF”(vocês sabem o que significa). Isso era um peso, mas atraía bastante gente interesseira e interessante. Meus mini-peitos ficaram enormes e logo o rótulo de CDF que atraía atenções dobrou com o atributo físico, somado a outros que começavam a despontar. Pra uma garota cujo foco era outro, era um peso dobrado carregar o fardo de ser “gostosa”. Muitos pensariam que a história começaria a melhorar já que “fiquei bonita”, mas eu me sentia invadida. Eu não era só um corpo, nunca fui. E nunca tive autoestima alta, sério. Então não acreditei nisso, talvez meu maior erro, me desvalorizar – se você já fez isso, eu sei como é. Eu me sentia usada, desde ser boazinha e não saber dizer não pra colocar nome em trabalhos de quem não fez nada, até ser vista como objeto – estava insustentável em minha mente inquieta. A popularidade seja por ser zoada ou desejada começou a ganhar vez (e nem tínhamos internet!) e eu lutando pra ser lembrada pelo conhecimento e boas obras. Mas acho que meu melhor atributo sempre foi a simpatia e o respeito com os outros e isso atraiu as pessoas certas, e com o tempo espantou as erradas. Aliás, que importância isso tem pra uma sociedade de aparências mesmo?   
FASE 4 – “IDENTIDADE”: Fui namorar, comecei a mudar a roupa depois de uma curta temporada de vestido curto de balada, pois agora era uma “senhora de respeito”, sempre fui, mas as vestes novas parecem obrigatórias quando namoramos um “roubador de personalidade”. Então eu comecei a me perder em minha identidade, embarcando na vontade alheia. Eu então comecei a ir na igreja evangélica, mas eu era inadequada pro ambiente. Brincos do tipo “jade”, gigantes e maquiagem forte que uso desde cinco anos de idade, ou antes. Comecei a desmanchar minha imagem pra me adaptar. Fiquei mais simples por fora, embora por dentro tivesse a mesma essência. O ambiente transforma a gente, a fé também, muita coisa melhorou, mas fiz muito pelos outros. Então me percebi “inadequada” para o mundo velho que vivia, e passei a ser julgada por mudar minhas vestes e o jeito, eu não era mais “normal”. Comecei a reparar no que eu queria. Mas quem está satisfeito mesmo? E a quem devo me reportar? Aqui virei humorista de mim.   
FASE 5 – “VOCÊ ERA TÃO BONITA – Eu tenho só 28 anos e aí há uns 2 anos perdi o cabelo e engordei quase 30kg depois de um tumor cerebral, perdi as curvas, tô redonda, uma curva só! Haha. Pronto! Desconstruída. Mas quem se importa com o que passei mesmo? Melhor sentar no sofá e “gonna hate”. Isso ficou mais evidente quando contei que tinha uma doença rara. As pessoas têm dó, nojinho, compaixão e algumas oram pela gente e gostam: prefiro olhar pelo positivo. Tenho blog há quase 15 anos com assuntos aleatórios, até que isso ficou mais sério há uns anos. E blog de moda ou lifestyle denota um padrão. Padrão que perdi apesar de já ter tido: eu era exatamente o que as pessoas podiam esperar de mim – magra, loira, sem defeitos muito aparentes. E agora? Será que vale a pena erguer uma bandeira sem padrões? Eu acho que vale erguer uma “apesar dos padrões”, pois eles sempre vão existir, mas nossa essência também. Eu sempre ergui essa bandeira, meus professores podem confirmar isso desde a infância, do meu jeito eu sempre fui ativa na denúncia de injustiças e na defesa do amor, sempre fui amiga de quem era desprezado, pois consigo amar pessoas absolutamente diferentes de mim. Mas agora ganhei mais força pra promover essa ideia, e não vou desperdiçar.   
ENFIM… Não adiantou eu ser magra ou gorda, gostosa ou com mini-peitos, inteligente ou fútil, evangélica ou hippie, também não importa se eu tava em momento solteira ou namorando, careca ou cabeluda. Minha vida de extremos é como a sua: somos julgados pelas atitudes, mas principalmente por coisas superficiais que não podemos mudar. A patrulha do certo e errado está irritando! Se como hambúrguer e posto, recebi um comentário “você deveria fazer uma dieta”, se posto frango com batata doce e açúcar mascavo eu “tô fitness”, se eu posto uma foto viajando eu “tô ostentando”, se eu posto de biquíni estou “vadiando”, se não posto nada “tô antisocial”, se comento tudo sou “stalker”, se vivo tô incomodando. Se posto meu gueto sou “blogueira pobre” e se posto meu namorado (novo, não aquele, haha) há quem o fique provocando. Poxa, nunca seremos o que as pessoas esperam de nós. Mas vamos tentar ser o que esperamos. Já disse que a internet não criou nenhum monstro, mas o alimentou. E eles não se olham no espelho. Muito menos se avaliam por dentro. Aparência pode ser que busquem, mas não ligam para as coisas eternas. Ficou fácil julgar. 


Por: Darah Gomes 

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